sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Epílogo em Versos Livres


Hoje, com a cabeça encostada em teu peito
Enquanto mirava as árvores de folhas verdes e ruidosas
Tive um vislumbre da proximidade do limiar de minha existência

Me peguei melancólica
Mergulhada em lamentos aborrecidos
Comovida com as possibilidades do epílogo desse intento

O que deixarei de marcante em tua memória?
Cada cena que vivemos, inevitavelmente hás de esquecer
E não recordarás mais o som da minha voz

Meu canto propagado e posteriormente desvanecido
Se perderá, como a mácula sonora do silêncio que me postulas
E nada restará, se não a poeira insignificante das minhas queixas inoportunas

Minha imagem se dissipará em questão de tempo
E não saberás mais distinguir quais eram as formas e ângulos de minha face
Que no presente te miram com ardor, mas em breve serão apenas chamas apagadas na tua mente

O contato gélido da extremidade de meus dedos em teu rosto viloso
Sequer será mencionado em teus pensamentos por fração de segundo
Sumirá como o gelo nas montanhas, que derretem e se tornam água correnteza abaixo

Pois na calada da noite, eu findarei e levarei comigo tua semente, mesmo sem saberes
Duas almas adormecidas no jazigo silencioso, repleto de flores que nos foram ofertadas
Uma obliterada pelo tempo, a outra jamais conhecida

E não haverá legado além de meus versos, que se apagarão do papel corroído e amassado na estante
Tuas lágrimas secarão, pois me tornarei apenas um relato na história da tua vida
Capítulo finalizado e jamais relido, aquela dor que não mais será sentida.

Permanecerei, enfim, apenas em teu esquecimento.



D. Bruno

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